segunda-feira, 24 de outubro de 2022

as páginas brancas são como um desafio para mim,

não encontro razão para algo existir sem uma pincelada de preto,

uma pitada de amargo ou um cheiro menos agradável.

se nada tem um propósito,

tudo tem razão para ser,

pois basta ser-se quem se é,

para algo ser motivo válido.

nunca fugi da dor, mas também nunca a procurei,

curiosamente, ela sempre me achou.

independentemente de me sentir apto,

mesmo não estando preparado,

a vida pregou-me rasteiras.

naturalmente, caí,

fui descendo por aí,

rebolei sobre lama,

bati no fundo,

até que um dia me encontrei.

encontrei um rapaz perdido no mundo,

alguém não muito doce, mas também não muito amargo.

achei um homem que homem nunca tinha sido,

um amigo que nunca tinha sentido,

um filho que não haveria rastejado o suficiente,

e um parceiro que nunca havia amado.

descobri o que não era,

mas o que era, isso não tinha achado.

aperto o peito para sentir esta coisa que bate dentro de mim,

esta coisa que não me deixa dormir.

não durmo pois ainda não fiz o suficiente,

mesmo quando o faço, sinto que não o fiz,

e se o que sinto não é compatível com o real,

sou insano para além de inútil.

o mesmo sonho surge sucessivamente,

independentemente de estar acordado,

vejo o sangue escorrer-me pelos pulsos,

vejo uma mãe a correr em desespero.

embora tente mexer-me, não consigo,

até manter-me consciente parece impossível,

o tempo anda, corre e some,

e, eu, vou-me perdendo no meio das linhas temporais de seda.

a vida é merda, 

por isso dorme,

dorme pois a vida é nada,

dorme pois a vida é ausência.

o conceito "morte" trás-me esperança que um dia possa descansar,

e que, após o meu último suspiro, possa descansar para sempre.

mesmo ansiando por esse dia, não o procurarei pois não sou cobarde,

ou insensível o suficiente para com os outros.

talvez esta obsessão sádica pela morte seja justificável,

ou, talvez, tente justifica-la para satisfazer a minha consciência.

sou verme e parasita,

sou cigarro em bocas infantes.

tudo o que toco quebra,

por isso toco o meu coração todos os dias,

na esperança de o quebrar também,

mas, como posso eu quebrar algo que nunca existiu,

algo que nunca nasceu ou sentiu?

se a esperança é a ultima a morrer,

o que é que faço aqui ainda?

nesta noite, em que tusso e choro,

preciso de um abraço sentido,

mas, mais uma vez, 

enquanto o mundo dorme,

eu sofro só.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

como um grão de areia é,

insignificante ao ponto de ser dispensável,

sou-o também.

as raízes da minha amargura são profundas,

a razão do meu disfuncionamento é um mistério,

e, eu, sou tão misterioso como interior de um ovo kinder,

tão pequeno como uma formiga,

invisível como uma bactéria.


as pedras que compõem a calçada têm um propósito,

e, se pensarmos bem, um significado,

significado este relativo a quem as observa,

a quem as julga.


custa manter os olhos abertos,

custa manter os braços erguidos,

a cada dia que passa, encolho,

sei que me tornarei mágico quando sumir de vez,

talvez ai me encontre,

nesse vazio que é a solidão.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

quando te olho:



as borboletas dançam na minha barriga,

desde o momento que te tornaste minha amiga,

hoje em dia, percebo que nunca havia amado,

pois, só agora, passado cinco anos da nosso encontro,

compreendo o que sempre foi evidente,

deixei de cantar o mesmo fado,

cessei de procurar amor noutro,

comecei a focar-me no presente.



quando estou contigo, sinto como se tivesse voltado a dormir,

porque somente um sonho pode produzir alguém tão perfeitamente imperfeito,

rir é me natural quando estou na tua presença,

e ,ao pensar, em ti começo logo a sorrir...

só mesmo tu para me fazeres sentir assim quando me deito,

até quando a cabeça está carregada de descrença.



penso em ti todos os dias,

aqueces-me até nas noites mais frias,

gostava de retribuir um dia tudo o que provocaste em mim,

vá por onde vá, só cheiro jasmim.



a fragrância da tua alma é aconchegante,

no meio da multidão, identifico-te num instante.



todas as manhãs são homenagem à tua existência,

tudo e todos, se rendem à tua beleza,

és, para a vida, essência,

és a água nos canais de Veneza.


adoro-te com tudo o que sou,

o que me fazes sentir é aquilo que te dou.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

se as tempestades que passam pela minha cabeça,

pudessem sair de mim por palavras,

seria tudo mais fácil.

se as mentiras, desnecessárias, fossem pesadelo ultrapassado,

e as gotas deixassem de cair sobre a minha face,

a vida seria mais intragável,

mais bonita e amável.


as coisas longínquas permanecem-me perto,

o passado nunca deixou de o ser,

sou apenas mais um ser, mais um que volta a erguer.


felizes amarguras surgem com o amor,

com o batimento rápido e o tempo ultrasónico.


foste tudo aquilo que sempre quis, 

no entanto, escapaste-me pelas frechas da mão.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

a dúvida instala-se no meu núcleo,
questiono-me, sou eu ou são os outros?
a mesma história repete-se ciclicamente,
sou só mais um que age involuntariamente.

a palavra, traiçoeira e manipuladora,
faz de mim insano,
inconscientemente soberano,

os pregos perfuram-me as mãos,
o sangue vai escorrendo,
rapidamente, 
mas não tão rápido quanto desejo.

sábado, 6 de agosto de 2022

se no passado pudesse encontrar conforto,

se conseguisse encontrar conforto de todo,

não seria quem sou ou o que sou,

não seria nem mesmo o que penso que sou,

não seria doce amargo ou prado desflorestado,

hoje em dia, fujo do que me relembra o amor,

viro as costas e já nem olho para trás,

simplesmente sigo em frente,

sem questionar o que já passou.


se não tivesse partido,

talvez agora não estivesse quebrado,

quem sabe, fosse feliz por uma vez,

somente uma única vez,

mas nem disso sou merecedor,

não sou digno nem de ter dignidade,

nem sou fiel às minhas palavras.


já tive nas mãos o que desejei,

o que desejo e desejarei.

não fui corajoso o suficiente para segurar o meu sonho,

deixei-o escapar por entre os meus dedos,

sujos e gastos de tanto os maltratar.


se soubesse o que sei hoje,

faria tudo de forma diferente,

mas, infelizmente, a vida é uma linha que corre numa só direção,

independentemente do quanto tente mudar o passado,

nada muda. fica tudo exatamente igual.

igual ao que era, igual ao que foi.


sempre me disseram que insanidade é esperar resultados diferentes,

tentando fazer algo da mesma forma.

então atiro a mesma moeda ao ar todos os dias,

na esperança de um dia ver a face oculta da moeda,

mas a esperança morre, tal como eu morrerei um dia.

quando esse dia chegar, espero partir de barriga cheia,

rezo para que não morra cedo pois encontro-me faminto e magro.


foste tudo aquilo que quis, mas que nunca soube que tive.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

mi coraçon explodio,

ensuciando todo en su camino,

sigo pensando en ti,

y como maté nuestro amor.


nuestro amor ya no existe,

yo no existo,

soy solamente una sombra,

una mancha en tu piel.


mis braços siguen rojos,

mi sorriso, muerto,

mis suenõs no existen más,

ahora que ya no somos.


quiero volver al pasado,

quiero besarte una vez más,

pero sé que eso és impossible,

nunca más te volveré a ver,

y eso mátame desde adentro.


no quiero seguir viviendo,

pero no tengo valentía para morir.

domingo, 31 de julho de 2022

sou o que sou, 

exatamente por ser como sou,

os outros dizem que sou aquilo que não sou.


eu não desmenti,

fui aquilo que não sou,

mais uma vez,

e, como da outra vez,

voltei a ser o que não desejo,

voltei a ser o que já fui.


tirei a máscara,

e por momentos, voltei a ser eu.


sempre que ouço aquilo que dizem,

ouço tudo menos aquilo que dizem,

ouço tudo menos aquilo que quero ouvir,

ouço tudo menos o que é.


durmo e encontro nos sonhos a verdade,

as máscaras não existem.


bonita realidade esta que somos aquilo que somos,

que somos aquilo que queremos ser,

que somos felizes.


ao contrários dos outros,

não gosto de ser como sou e o que sou.

sempre que sou o que sou,

sou o que não sou.


o mistério das palavras é inexistente quando lêmos sem preconceito,

quando vemos ,não com os olhos, mas com a intuição,

com a alma e com o coração.


a confusão é nula,

quando a mente está aberta.

a confusão é tanta,

quando nos fechamos ao exterior.


já não acordo em pânico,

já não sonho.




domingo, 10 de julho de 2022

sinto nojo do que fui e do que ainda sou,
sou só mais um parasita,
mais um gato que bebe da sanita.

fala-me de um ser humano que nunca errou,
e falar-te-hei do quão insano te tornaste.
o tanto que me odiaste,
acabou por ser alimento para o meu solo,

estas são as noites em que desconsolo...

alianei-me da responsabilidade,
de ser filho, mesmo que ingrato,
afastei-me da realidade,
de que vícios devem ser auto-sustentados. 

quando um filho é inútil,
como será que que os seus pais se sentem?
sou inútil, exclusivamente inútil,
questiono se algum dia conseguirei ser útil.

as pessoas mentem,
eu? não sou diferente.
falho diariamente,
repetidamente.

o tempo morre e passa,
eu morro e passo,
só não passa a vontade quase escassa,
de tocar violino no meu braço.



terça-feira, 28 de junho de 2022

deus escreve em linhas tortas,

já eu, escrevo sem linhas,

encontro-te no meu caderno sem folhas,

onde revivo memorias mortas,

e coisas que são só minhas.


vivemos todos em diferentes bolhas,

somos fruto do pecado,

fomos luz, fomos seda,

hoje em dia? somos amargos,

já nem gostamos de fado,

tristes são as visões que o mundo segreda,

para aqueles com elevados cargos.


a tristeza já não me acompanha,

a bruxa já não me arranha,

no entanto, a felicidade sumiu com ela,

acabou-se a excitação,

o sorriso espontâneo morreu,

juntamente com as recordações dela.


tamanha é a dor da traição,

de quem nunca foi meu. 




terça-feira, 5 de abril de 2022

    Sinto-me perdido. Sinto que não me sei expressar, que não me sei relacionar. Os dias passam e em todos eles visitas o meu pensamento. Não sei porquê, é óbvio que sou só mais um brinquedo, mais um substituto ou, talvez, uma fuga à solidão. 

    Quando não precisas de mim, descartas-me. Quando não precisas de mim, eu morro. Talvez seja esse o meu propósito, ser usado, ser devorado e triturado por monstros que pouco ou nada se preocupam. A raiva vai crescendo, vai subindo e eu vou com ela. Sei que eventualmente a razão irá perder para a emoção, que o desespero reinará face à esperança. 

    A culpa é minha. Dou às pessoas aquilo que elas nunca merecem de mim. Apego-me, entrego-me e rendo-me à vontade doentia de pessoas emocionalmente desreguladas. Já não quero morrer. Decidi saborear a morte apenas quando reinar no mundo dos vivos. Aí, só aí, me renderei ao desejo sádico que carrego desde adolescente. 

    Acredito que tudo o que semeamos acabamos por colher, embora que nem sempre assim o seja. As pessoas já não me dizem nada. Amigos, família e até mesmo tu. Por mim podiam todos morrer juntos numa vala. Sentir-me inútil foi um erro estúpido que cometi. Como posso ser eu inútil? Inúteis são aqueles que fizeram de mim um monstro. E juro por todos aqueles que morreram antes de mim, o mundo vai pagar caro por tudo o que me fizeram    

sábado, 2 de abril de 2022

morte que me persegues,

passei a odiar-te,

deixa-me que te diga, tu consegues!

diz me alguém que reside em Marte.


morte é ausência de ser

e eu? quem sou?

sei que estou onde não quero estar,

e que já nem quero viver,

pois ainda cá estou,

pois tenho algo onde me agarrar.


em breve, muito breve,

esse algo irá sumir,

e só ai poderia então partir,

em esperança que o espírito eleve.


a física das coisas não me entra no miolo,

só, com frio, desconsolo,

na amargura que é existir sem propósito,

secou o depósito,

a fé que nos outros deposito,

é desadequada e mal direccionada.


a direcção do volante quebrou,

a tela ficou somente escura,

triste é o destino de quem se renegou e privou,

e que fez da emoção uma pedra não tão dura,

não tão seca e sem cor,

mesmo assim, não sinto amor,

não sinto de todo.


fui ao engodo,

tropecei em trapaçarias alheias,

a cabeça fui enfiando nas colmeias,

onde fui picado e devorado,

por zombies disfarçados.


após ter colocado inúmeras máscaras,

já não sei qual é a minha.


umas mais baratas, outras mais caras,

mas todas as pessoas têm um preço,

sorri enquanto me tinha,

mas agora, que deixei de ser meu,

meto-me de joelhos e peço,

rezo pelo mesmo deus que o teu.




terça-feira, 29 de março de 2022

hoje, penso em ti,

para mim, todos os dias são iguais,

curiosamente, quando os passo contigo tudo muda.


os pesadelos perseguem-me durante o dia,

e, quando fecho os olhos, vejo melhor.


sempre quis ter alguém como tu na minha vida,

talvez sejas a irmã que sempre desejei, mas que nunca tive,

ou, talvez, sejas mais que ouvidos cerrados,

e, quem sabe, o teu coração se abra para mim um dia.


olho para ti como quem presencia um milagre,

iluminas as minhas noites,

acalmas a minha ânsia,

e transmites paz quando falas.


custo-me ouvir-te com uma voz fraca,

amarga e desconsolada.


compreendo que nem sempre tudo é bom,

mas ao se fechar uma porta outras abrem-se.

quarta-feira, 23 de março de 2022

o tempo segue em frente,

a amargura ainda é recorrente,

o sol, ausente permanentemente,

eu? continuo desapegado do presente,

o tempo é a minha gaiola,

sou o pássaro que a habita,

preso no que me desabilita.

o descontentamento é enorme,

a escuridão é avassaladora.


mente que nunca dorme,

alimenta a voz da minha cantora,

aquela que me canta desconsolada,

e que mantém a minha boca cerrada.

a vida está cheia de coisas boas,

mas não sou uma delas,

uma dessas iluminadas pessoas,

que abrem portas e janelas,

sem questionar o porquê de o fazerem.

se a vida foi feita para a viverem,

porque é que a morte me atrai?

tornei-me na primeira gota que cai,

sempre que o céu chora.

talvez um dia consiga ir embora.

terça-feira, 15 de março de 2022

Conhecia-a no dia que estava destinado,

Conquistei o seu coração em breves instantes,

Cedo, tornamos-nos amantes,

Foi a primeira vez que me senti desejado.


Pensei que os dias em que passava só tinham acabado,

Para minha infelicidade, apenas tinham começado.


Nada dura para sempre, nem mesmo a eternidade,

O amor evaporou-se juntamente com a tua imagem,

Apercebi-me que a vida é uma solitária viagem,

Obscuridade invadiu a minha realidade,

As flores murcharam e tudo o que me era belo morreu,

Não sei se desapareci ou se ela me esqueceu.


O curto tornou-se permanente,

A depressão é agora um gigante que me persegue,

Rejeito tudo o que me entregue,

Afastei-me de tudo e agora encontro-me ausente.


A vida acaba,

Isso trás-me algum conforto,

Sei que me encontrarão morto,

Enquanto a chuva desaba.


A minha história parece ter começado ainda ontem,

Não quero que a contem,

Ou que a partilhem,

Temo pelos que compartilhem,

Do mesmo destino que eu.


Perdi quando o meu coração rompeu.

quarta-feira, 2 de março de 2022

afundo-me cada vez mais profundamente quando sonho,

sim, quando sonho caio. 

caio no vazio que é o pensamento,

no nada que é viver.


em tempos, foste fonte de prazer,

foste a moleta que segurei para não cair.

por isso, hoje que a moleta me falha,

permaneço numa queda constante.


sumir por uns tempos não basta, 

preciso de desaparecer,

talvez me esconda noutra saia,

uma que me ajude a esquecer.


esquecer-te, não durante uns tempos,

mas permanentemente.


a geada fere a minha alma,

corrói o meu ser,

tapa-me a vista,

atira-me para o escuro,

onde fico até que me encontres.  

terça-feira, 1 de março de 2022

tears stain all your paintings,

like black ink that rains upon a beautiful scene,

my hopes and dreams have vanished,

they've been gone ever since you left.


the lack of you has made me emtpy,

and the feeling I get whenever we reunite is bitter,

I know that your presense is but a fraction of what it was,

and no matter how much water you pour in to my cup, it is never enough.


on moments of clarity, I think about suicide,

it has been my secret desire for years,

I'm still clinging to the few emotions I am able to feel,

but no other touch makes me complete.


there was a time where I thought your love would be eternal,

my inocence was but a foolish belief,

today I know nothing is eternal,

appart from this emotion that keeps me awake at night.


if I was allowed one wish,

I would wish to feel nothing at all,

only then would I be free,

of this feeling that binds me to life.


I no longer desire to breathe,

even food has lost it's taste.


the world does not care,

neither do you,

the cars keep moving and the birds will always sing,

no matter how frustrated I am or how close to the finish line I may be.


if one day I stop answering,

know that I no longer walk among the living,

I will never ask for help, specially from you,

at the end of the day, I am but one of many.


I am insignificant,

and my lack of utility drives me insane,

I really thought we would love each other forever and ever,

no matter how long that forever might have been.




segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Sou uma agulha num palheiro,

Ninguém me vê, ninguém me olha.


Se desejar fosse um pecado,

Seria pecador supremo,

Afogado na ânsia por sentir algo.


Amor, amor que me trais,

Que me testas e desiludes,

Porque me assombras passado tantos anos?


Quero dormir eternamente,

Quero paz permanente.


Encontro-me ausente de vida,

Encontro-me perdido,

Os meus sonhos são reflexo do passado.


Visões amargas e traiçoeiras,

Levam-me no engodo que é imaginar,

Grito, grito e berro. Nada nem ninguém me escuta.


Parece que falamos línguas diferentes,

Ou, talvez, faltem línguas a muitos,

Pois quando falam a boca abre mas só sai de lá ruído,

Ruído para os meus ouvidos e para a minha alma,

Cada vez mais fria e desconsolada.





O fim está próximo,

Próximo de mim,

Este fim, que é só meu,

Aguarda para me segurar nos seus braços.

Morte fria, mas desejada,

Leva-me para o outro lado,

Acaba com a minha inutilidade,

Dá paz aos que por mim se preocupam.


O peso das responsabilidades, das críticas e expectativas é demasiado,

Embora tente, tente e tente, nada muda,

Permaneço inerte e catatónico face ao que acontece. 


Gostava de chorar, talvez isso me aliviasse.

Não consigo chorar mais,

O meu poço secou,

A água desapareceu, levando com ela todas as minhas esperanças.


Os meus sonhos, melancólicos e monótonos,

Retratam uma vida onde já não existo.

Não minto quando digo que anseio para que isso aconteça.


Estou com frio e já não vejo nada à frente,

Olho para trás e vejo a mesma coisa... nada.

Sou só mais um que nada sem objectivo,

Para além de sobreviver.


Se não me permito viver,

Para quê respirar?

Para quê tentar?


Agonizo acompanhado pela solidão e o vazio à minha volta.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O tempo faz com que vá desaparecendo aos poucos,
Então mato-me para que suma de uma só vez,
Eu e todos os que fui gritamos em sintonia,
Gritamos até ficarmos roucos,
Amaldiçoou quem assim me fez,
A morte toca-me a sua sinfonia e nela encontro harmonia.

O tempo vai passando,
Enquanto eu vou caindo,
Cada vez mais fundo pelo limbo escuro,
Que triste e solitário é este pensamento obscuro.

Gostava de ser normal, mas não sou,
Gostava de me entregar, mas não me dou,
Gostava de ficar, mas a força abalou,
Gostava de gostar, mas o meu coração parou.

E se o propósito é nulo,
Eu sou mais vazio ainda,
E, todas estas palavras que articulo,
Demonstram a ausência na minha vinda.

Talvez ganhe coragem para o fazer,
Ou, talvez, a coragem seja cobardia,
Tudo o que sei é que a minha alma permanece fria,
Quem me conseguir esquecer,
Sim, que me dera conseguir apagar da minha mente,
Os fracassos e frustrações,
Mas, nunca fui crente,
Nem nunca recorri a orações.

Ninguém me entende,
Já nem isso me surpreende.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 

Não me visites nos sonhos,

Tu que pintas as paredes tu do meu quarto de roxo,

Tu, sim tu que transcendes o espaço e o tempo que nos circunda.

 

As coisas acontecem de forma aleatória,

Torno-me um pouco mais maleável,

Para que aceite melhor aquilo que não escolho.

 

Voa alto,

Afunda-te no meu pensamento,

E deixa-me sem me avisares.

 

Sou apenas só mais um,

Mais um prego no caixão,

Que te acolherá no termino da vida.

 

Por isso, sê tu mesma,

Pois és tudo aquilo com que sonhei,

Tudo aquilo que sonho e sonharei.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 Fumo o cigarro até ao filtro.

O meu olhar, distante e solitário,

Faz com que nem consiga ver o meu reflexo.

Quando olho para dentro, vejo-te.

Por muito que enterre as nossas memórias,

Elas vêm sempre ao de cima,

Como se negassem a morte que é inevitável.

 

Os anos passam e eu envelheço,

Consciente da verdade indiscutível.

Nunca mais te irei ver,

Nunca mais irei sentir o teu odor,

Nem nunca mais te vou sentir.

 

A amargura da vida é mais forte que o sabor de qualquer doce,

A vida é azeda. Não azeda como eu,

No entanto, todos a querem viver.

Permaneço cético face ao motivo que me faz levantar,

Será esta a minha vontade?

Ou serei apenas só mais uma maquina,

Programada para continuar?

Mesmo quando tudo é mau,

Ou quando tudo é preto,

Não desisto.

Porquê?

Talvez viva por cobardia,

Ou, talvez, nem esteja a viver de todo.