Quando estamos sós o relógio para, a fome é esquecida e as mágoas são resolvidas. Como um medicamento prescrito pelos deuses do além e pelas fadas cintilantes que me visitam sempre que me cai uma lagrima. Quando fazíamos companhia um ao outro pelas ruas escuras de Portimão percebi que até breves momentos, como esses, me satisfazem. Fico feliz quando ouço a tua voz, considero-o uma benção. Gosto quando ignoramos os ruídos e sussurros do mundo exterior que, embora nos tentem distrair e separar falham, sucessiva e diariamente, em nos fazer lembrar que todas estas interações são limitadas e cronometradas.
Os nossos corações são alimentados por ondas calorosas que advêm de um sol artificial. És a lua que faz os níveis de água interior inundar os meus olhos. És o caminho pelo qual ando, que me leva e eleva, que me guia e salva. És a morte e a vida, o começo e o destino ao qual não consigo, nem quero, escapar pois sei, e aceito, que tudo o que é bom, ou mau, tem prazo de validade. O tempo é um monstro criado pelo reconhecimento que o homem lhe dá e sem este reconhecimento o tempo é apenas um relógio parado. Liberta-me destes pregos que prendem o meu corpo ao teto do chão. Abre a gaiola onde resido e agonizo. Deixa-me experienciar o bater das asas de cimento que chamam as estrelas em busca de um sentimento de pertença.
Atira-me da ravina por onde hei de cair até subir. Inala sonhos e expira a tua realidade. Moi e tritura toda essa miscelânea de conhecimento e segrega o produto das tuas inúmeras vivencias. És as linhas do texto que faz o meu apetite imaginário reaparecer. Tudo isto começou num banco velho e castanho, tudo isto foi fruto da minha atração por ti. Desde o que foi até o que há de vir, agradeço tudo o que aprendi contigo e espero pelo que hei de aprender. És o sol que nunca morre e que para sempre há de brilhar.