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Ao chegar ao hotel, onde Scarlet residia temporariamente, já ela o esperava. Com um casaco de cabedal vermelho, umas calças de ganga azul escuro, um colar bem escondido com um símbolo de metade de um coração e umas botas de cano longo vermelhas. John ficava fascinado com a demonstração de beleza que ela exibia. Não só naquela noite mas sim em todas as noites e dias que a tinha visto no passado. John abriu-lhe a porta do carro do lado de dentro e ela entrou. Cumprimentaram-se com um beijo na cara e um sorriso envergonhado, ambos ainda um pouco nervosos com o evento da noite anterior. Durante a viagem Scarlet olhou fixamente para John. Como se um sonho se tivesse tornado realidade e lhe tivesse aparecido à frente fisicamente. Ao chegar a casa de John, o mesmo, tirou o casaco a Scarlet. John repara nos cabelos longos de Scarlet. Tremenda perfeição, pensara ele. Tirou o jantar do forno, serviu Scarlet e depois serviu-se a si mesmo. Abriu a garrafa de vinho e despejou um pouco em ambos os copos. Começaram por falar de como chegaram onde chegaram profissionalmente. Scarlet ficara surpreendida de como John conseguira acabar o doutoramento em tão pouco tempo. Afinal de contas John, pelo que Scarlet se lembrava. sempre tirara notas baixas. Ao acabar o jantar John retirou os pratos da mesa e colocou-os na maquina de lavar. Sentaram-se no sofá da sala. Scarlet, já bêbeda, pois não bebia com regularidade, perguntou a John o porque de ele ter fugido na sala naquele dia. Era difícil para John falar sobre o assunto mas, por Scarlet, tentou fazê-lo. "O motivo de ter tido a reacção que tive foi devido ao facto de a minha mãe já ter falecido à um tempo. Não conseguia aceitar a morte dela, nem tão pouco o meu pai. Apôs a morte da minha mãe, o meu pai, entrou numa depressão. Começou a consumir álcool todos os dias, perdeu o emprego e rapidamente perdeu-se a ele próprio. Como podes imaginar, numa cabeça de um rapaz de 12 anos isto era bastante difícil de lidar. Acredito que mesmo agora não o conseguiria fazer. Deixei de ter uma mãe e um pai ao mesmo tempo.". Scarlet ficara triste por John e sentiu uma tristeza que se manifestou em forma de lágrima. Começou a chorar e disse - "Tu não mereceste nada disso. Sempre foste uma boa pessoa. Embora não o mostrasses eu sei que o és. Não posso refazer o que já foi feito mas quero que saibas que vou tentar preencher esse vazio que tens dentro de ti. Para preencher esse vazio que tens, tens que deixar alguém entrar lá dentro. Só assim puderas sentir a verdadeira felicidade. Eu sei disse porque estes anos todos sempre foste tu que residiste dentro de mim. No meu pensamento. No meu ser e no meu viver. Sempre tu.". Scarlet tinha ainda várias perguntas às quais não sabia a resposta. Como por exemplo - "Como é que a mãe morreu", "Porque é que o pai deixou de querer saber dele apôs a morte da sua mulher", "O que aconteceu depois de te teres ido embora", "Porque é que nunca me deixaste entrar?". Antes de começar a falar John abraçou Scarlet. Dizendo de voz baixa ao ouvido de Scarlet saíram da sua boca as seguintes palavras "Eu fui o motivo de tudo isto, eu fiz asneira. Uma vez foi o que bastou para desmoronar tudo aquilo que construirá ao longos dos anos. Uma vida feliz. Uma família feliz. Uma criança feliz.". Começou a chorar, deixou-se cair no chão e começou a dar murros no chão. Scarlet ainda não sabia o que se tinha passado mas, calculara que algum tipo de acidente envolvendo a mãe de John e John tenha sido a morte dela. Scarlet levantou-se, agarrou-se no braço antes de ele o atingir de novo o chão, agarrou-lhe na cara e olhou-o nos olhos. "Para de te prender ao passado quando tudo o que queres está à tua frente. O passado pertence aqueles que partiram e o futuro àqueles que ficam. Tenho a certeza que era isso que tua mãe quereria que fizesses. Seguir em frente. Tornar-te num homem e seres feliz. Talvez um dia encontrares alguém que te ame e começares uma família". Devagar, aproximou os seus lábios dos de John e um beijo floriu.
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