infinita é a raiva que carrego,
dentro de mim, palavras sem som,
transparecem através da minha expressão.
expressão que uso, expressão que me usa,
vítima de mim mesmo,
agressor frágil,
incerto,
pequeno e invisível.
amarga é uma vida,
onde nunca se chega a viver.
o tempo corre.
o tempo voa.
eu? voou com ele,
até que caio do abismo que sempre admirei,
admiração obsessiva,
maníaco-depressiva.
tento transmitir, escrevendo,
o que não entendo nem demonstro.
não por não querer fazê-lo,
mas porque me é impossível.
tal como o respirar submergido em água,
é veneno para aqueles iguais a mim,
também é veneno para mim o ato de confiar.
olho, analiso e penso,
concluo apenas que sou demasiado diferente,
demasiado atípico e estranho.
ser o que sou é me natural,
fazer o que faço é normal, para mim.
estranho, atípico e diferente são os demais!
doentes são aqueles que são saudáveis em ambientes tóxicos,
malucos são os que mantêm a sanidade no meio de tanta loucura.
o caos governa tudo e todos.
no meio disto tudo,
ando eu,
no meio disto tudo,
permaneço oblívio à ignorância que possuo.
tamanha é a inquietude das minhas pernas,
que, mesmo disfuncionais, fazem o que lhes digo.
funciona então o disfuncional,
porque não eu também?
paga-se caro pela exclusividade.
sou isso sim...
exclusivo.
injusta troca esta que faz de mim moeda,
com cada troca, perco um pouco de mim.
e, com o passar do tempo, vou perdendo tanto...
perdi tanto,
perderei ainda mais,
até chegar ao dia que o que sou deixou de ser,
talvez ai a moeda deixe de ser o que sou,
talvez um dia chegue a ser algo banal.
nunca desejei ser isto,
e, se pudesse, não o seria.
o mundo é injusto?
de injustiças percebemos nós,
filhos do maligno.
se o mundo é injusto,
pudemos apenas culpar aqueles que fizerem deste mundo aquilo que ele é.
o culpado sou eu. o culpado és tu e todos.
a culpa é, também, dos que já partiram,
tanto como é culpa daqueles que ainda nem nasceram...
injusto. sim, certamente injusto.
dar-se como culpado alguém não concebido.
certezas? não as tenho.
poderia dizer, com certezas, que um dia morrerei.
bem, nem mesmo disso estou certo.
a morte é consequência da vida,
tal como a ausência advém da existência.
pois bem, se vivo alguma vez fui,
nunca o soube.
se existo, ou não, tão pouco o sei.
por vezes, questiono até isso.
se pensar implica existir,
sei que nunca existi.
nunca pensei.
talvez alguém tenha pensado por mim.
mas, eu?
nunca.
pensar acontece somente na presença de inteligência,
e isso é coisa que nunca possui.
não sou burro como uma porta,
nem mesmo ignorante.
durante este tempo, nunca fui,
não sou nem serei,
alguém.
o vazio,
a ausência,
e o nada.
palavras soltas e poemas,
talvez seja isso.
mentiras honestas,
gritos escritos em folhas,
e o espaço que vive entre a tinta.
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