ruas, becos sem saída,
o que sou? sou nada,
nadador que não sabe nadar
bem que pode espernear,
marés despreocupadas.
mães que foram privadas
dos seus filhos
e dos seus trilhos.
palavras venenosas,
rimas asquerosas.
quem sou eu? ninguém,
da vida sou refém,
para a morte irei
num dia que nunca saberei.
sons que saboreei,
sorrisos que disfarcei,
quem somos nós? imagens de outrem,
coisas que fiquei sem,
odores que memorizei,
mentiras que alimentei.
fomos feitos por alguém,
percentagem igual a cem,
risos tristes e olhares catatônicos,
pão nosso de cada dia,
homem que não ri, rapaz que nunca ria,
beleza artificial, rios de tônicos.
vontade inabalável,
ato reprovável.
cozinhas que sustentam a fome,
corpos sem nome,
rosto sem face,
pessoas sem classe.
e por isso vos pergunto
ideias de um tonto,
quem são vocês? o que são?
amar sem perdição?
acompanhar na solidão,
só eu e o meu coração,
vozes místicas e consequentes,
conto as vezes que mentes.
copo cheio de inércia,
príncipes de pérsia.
o musgo preenche as paredes,
peixes presos nas redes,
alma faminta por mais,
filho de outros pais,
veneras temporais
pois a cada casa destruída
outra será erguida.
remar até ficar sem força.
força que te força
a ficar dormente,
pessoa que nunca te olha de frente,
dúvidas permanentes,
raiva que sentes.
chora lágrimas de mágoa e descontentamento,
sorri, aceita cada momento,
nada ganhas em chorar,
disseram-me que ajudava a sarar,
só me ajuda a renovar,
e a cada renovação
fico com a impressão
que já não sou eu
já nem sou teu.
atira-me terra para a vista,
procuro a próxima pista,
aves que já nem voam,
momentos que já foram,
perdidos para o nada que é o esquecimento,
desolação, em drogas fermento,
comprimidos da alegria, comprimidos mórbidos,
sou um rolar de dados,
má sorte inerente a qualquer romântico,
afundo-me no atlântico,
cidade submersa e abandonada,
bebé que não nada,
família remunerada,
telhado desfalcado,
muro quebrado.
anseia a ceia que encontras na teia.
aranha desmembrada,
natureza revoltada,
o que fazemos aqui? desencontrados do natural?
caminhamos para o nosso próprio funeral.
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