no cemitério de cigarros que mato encontro uma amargura aditiva e termenda. nas cervejas que consumo encontro um sentido inexistente e a sensação de que os problemas não existem. a cada corte, a cada queimadura, a dor desaparece. prefiro ver o sangue escorrer a minha perna do que pensar em ti pois pensar em ti é a maior dor que já senti.
hoje em dia não passo de um mentiroso para ti. invejo o meu eu passado e a inabalável confiança que depositavas em mim. com o passar do tempo cada vez me apercebo mais que sou um falhado. sou incapaz de manter relações, talvez por medo do que ai vem, talvez isto tudo aconteça inconscientemente. para ser sincero, não sei. o que sei é que tudo o que toco se transforma em pó. tudo aquilo que eu provo apodrece.
com as memórias manchadas que carrego, endoideço. cada vez mais se torna difícil fazer o básico. torna-se mais complicado, todos os dias, distinguir a realidade do fictício. talvez minta por querer criar um cenário em que tudo é como eu gostava que fosse. talvez minta, não por maldade, mas por me ser necessário. a minha realidade destrói-me diariamente e sucessivamente. gostava de ser mais forte, mas não sou. gostava de ser uma pessoa que inspirasse confiança, mas não sou.
salto, agora, em trapézios e atiro-me de ravinas, vezes sem conta. a cada queda me apercebo do quanto mereço sofrer. torna-se claro que o meu propósito atual é a auto-destruição e sabotagem. não encontro outra explicação. sinto remorsos e culpa. sinto ódio por mim mesmo. a cada chapada e a a cada murro que levo o meu sorriso começa a crescer. nunca poderei redimir-me. estou condenado a um ciclo onde sofrerei, vezes sem conta, até morrer.
talvez na morte encontre uma saída, talvez na morte encontre paz e silêncio... talvez. para ser sincero, não descredibilizo a hipótese de vidas passadas. talvez esteja a pagar por o que fiz, não numa vida, mas num conjunto delas. estamos todos ligados pelo destino e a cada ato de bondade ou de ódio vidas mudam. mudam numa forma que nos é impossível percepcionar.
o destino passa pelas mãos de todos, mas somos realmente livres? as nossas ações são realmente da nossa responsabilidade? sinceramente, não sinto que assim o seja. quando sinto um impulso e me deixo levar por ele, de quem é a culpa? minha? serei eu culpado por ser doente? por não saber controlar os meus estímulos? penso que sim e, mais uma vez, culpabilizo-me de tudo o que se passou na minha vida, até hoje.
as lágrimas custam a cair quando o coração está seco. a fonte da vida faleceu e levou consigo tudo o que lhe pertence. gostava de poder olhar-te nos olhos e dizer que não sou tudo isso que dizes que sou, mas, pensando bem, estaria a mentir, mais uma vez. a luz ao fundo do túnel perde a intensidade a cada crepúsculo. o fim está próximo. escrevo nas paredes com o meu próprio sangue. "a vida é uma merda".
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