quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

morto, nos sentimentos.

catatónico, em como me expresso.

prefiro não me recordar de certos momentos,  determinados movimentos,

e este assunto, nem às paredes confesso,

porque sentir é sofrer, e sofrer é cair,

volto a cair sempre que consigo subir,

tenho arrepios quando penso em como era sorrir,

verdadeiramente, honestamente, alturas em que fui crente,

ocasiões onde amei perdidamente, onde o esforço foi insuficiente.

 

quando sou, sou na totalidade,

e quando me vou, ajo por conformidade,

à verdade, à realidade, ao meu destino,

ninguém salvou este menino,

e os chamados heróis e bondosos,

demonstraram ser pouco generosos,

as trocas, injustas, impuras,

as palavras, imaturas,

infantes mais idosos que velhos,

adultos que não passam de fedelhos.

 

ao ser o que fui, fui usado, constantemente,

e ao ser o homem que nunca mente,

perdi o presente,

perdi a esperança, perdi a capacidade de acreditar,

e nos momentos em que me faltou o ar,

só precisava de alguém para falar,

alguém que abraçasse com o corpo, que beijasse com a língua,

que não tivesse medo de transbordar água,

e que vivesse a vida,

a verdade nunca deve ser esquecida,

aprende-se a sofrer, tal como se aprende com o sofrer,

e a cada sofrer, há um erguer,

mas, em cada erguer, perco a vontade de viver,

a estrada parece não ter fim, e as luzes estão a dormir,

por isso, acabei por não sentir,

pois sentir até acontece a dormir,

é uma ferramenta que me é inútil,

enviesa-me o pensamento,  nunca me é útil,

e a empatia, serve de alimento para a depressão,

não carrego só o meu peso no coração,

os fardos são divididos, mas os meus não,

ninguém os leva comigo,

nem mesmo quando estava contigo,

amor perdido para o tempo,

em cada relação surge um contratempo,

 o verde torna-se vermelho,

no final, tudo vai no caralho,

e o caralho, fode tudo,

até quem é mudo,

e mantém a boca fechada,

pois a boca não é a única entrada.

 

as alturas em que assobio, pelas ruas tristes,

são as alturas em que mais me assistes,

pássaro tímido e curioso,

discurso assertivo e pouco mentiroso,

envolve-me na sua canção,

cenário que me abre a mão,

que me abre ao espiritual,

revejo uma vida animal,

onde sou o ator principal,

e aos poucos, vou me afastando,

relembro-me do grande Fernando,

e dos seus poemas imaculados,

por mim, serão sempre venerados,

pela sua astucia, pelo seu génio,

poeta do milénio,

amigo desconhecido,

coração conhecido,

 exposto, por palavras, por ondas lineares,

dava-te os meus textos para brincares,

para os fazeres ouro literário,

texto não binário.

 

mas pronto, sou quem sou,

alguém que nunca se libertou,

das correntes, das prisões que são as recordações,

e a ti, pediria vários perdões.

Sem comentários:

Enviar um comentário