sexta-feira, 16 de outubro de 2020

 

à deriva, vagueio por ai,

percorro linhas de ferro,

como alguns percorrem linhas brancas,

constante inconstância, alma em dissonância,

o mundo arde, em febre,

o mundo chora, o mundo adoece,

crianças criadas com trela ao pescoço,

herdeiras das frustrações dos cuidadores,

a nuvem transborda lágrimas,

a lua, esconde-se,

criaturas estranhas acordam de noite,

na noite somos peões num jogo de deuses,

e no girar de um pião, somos cordas manuseadas,

o coração sangra quando o amor morre,

o espírito encolhe,

só na noite almas são colhidas,

de noite, pessoas são esquecidas,

nos sonhos, abstinência da realidade,

a mente, mente, e eu, minto com ela,

não me conseguem atirar ao chão,

não aceito perdão,

ressequido e desonesto,

não aceito justificação,

quando o motivo não é honesto,

e não me conseguem partir,

não sou feito de vidro,

resistência de quem já esteve no outro lado,

resiliência de quem já sumiu, de quem já partiu,

e consigo ficar bem,

quando estou sozinho,

porque aprecio mais a minha doença,

que pessoas que usam máscara diante quem não se esconde,

cobardes, esses que fazem a sua presença desconhecida,

a sua identidade permanece escondida,

medo é natural, e sentir medo tem objetivo,

mas quando o medo poupa quedas,

e as portas se fecham,

um novo mundo é criado,

podemos dizer que sim, portas novas se abriram,

e sim, muitos sorrisos morreram,

perdidos para o tempo,

nunca concretizados,

experiências negligenciadas,

e a morte, é isso,

uma porta que fechou, para sempre.

quando algo morre, tudo muda,

as plantas murcham,

os pássaros não voam, e os peixes não nadam,

a morte é o fim de uma vida,

de um conjunto de vivências,

a morte leva até o sentimento,

por isso, temo a morte,

e agradeço as oportunidades que me foram dadas,

porque para mim, a vida é o bem mais precioso que temos,

a vida é o começo, é a inocência e a beleza.

a vida é curta, pelo menos para mim,

passamos metade da vida a dormir,

tempo jogado fora, para uma consciência tranquila,

de que fiz tudo ao meu alcance.

no final, nada pode ser explicado,

e a vida resume-se a uma coisa,

sentido.

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