estou cansado,
mesmo assim, corro,
hoje
fui ao nosso jardim,
estava
vazio,
fiz-lhe
companhia,
fiquei
só, com ele,
senti
que a tua presença era mais sentida que a minha,
sem
ti, o jardim não riu,
o
jardim não chorou,
o
jardim não fez nada,
simplesmente
existiu,
e
assim permanecerá, até à tua chegada.
o
coração, é frágil, e eu, nem tanto,
noites
em que canto, no meu canto, que podia ser nosso, mas não é.
cansado,
de subir, apenas para cair,
amargo,
este sentimento permanente de desconforto,
sonhos
em que estou morto,
não
me trazem nada, mas contam-me,
o futuro, o que me espera,
alegria
que me era, comum, normal,
agora,
é só memória, desfalcada e adulterada,
mementos,
sem momentos,
sem
movimentos,
simplesmente,
nevoeiro, de janeiro,
e
as contas que fiz, onde seriamos três,
acabaram
por resultar num grande zero,
zero
que sou, ainda mais zero que quero ser,
cordas,
fortes e rijas,
ao
contrário de mim, suave e maleável,
sensação
desprezável,
tempos,
em que te via rir, despreocupada, com o que poderia ser,
tempos
em que vivias, um beijo,
em
que tinhas essência, em que eras tu mesma,
e
não o fantasma do que foste,
e
agora? persigo fantasmas, que nunca acho,
aqui,
no escuro, nada acho,
é
a ausência do ser,
é
a inexistência do viver,
é
aquela picada no rim,
é
aquele aperto no coração,
quando
não havia necessidade de pedir perdão,
e
estou, bem, estou bem farto,
de
acordar, de me levantar,
de
olhar para um espelho, que nada me diz,
de
olhar para estes olhos, que choram o que sou,
que
choram quem fui, em tempos,
que
era notório, ser. ser o que sou,
ser
o henrique, que teve tudo,
agora,
pinto com tinta corporal,
desenho
com ardor animal,
desmembra
o preconceito,
atira-o
da janela,
discrimina
nem a própria palavra, discriminação,
por
isso, sé, alguém. alguém que queiras ser,
alguém
que anseia o viver,
alguém
que come sem esquecer,
o
porquê de comer, o porquê de respirar,
o
porquê de acordar.
gostava
de acender o teu interior,
como
fizeste ao meu,
conseguirei
eu?
o
mesmo eu que, te viu sair,
da
minha vida, que jogou a mão,
e
te perdeu? não sei, nem nunca hei de saber,
saber
o que poderia, saber o que sentiria,
não
gosto desta realidade,
nem
da sua verdade,
inegável,
palpável,
respira,
para fora,
abre
a gaiola, e voa para longe,
a
sociedade está podre, no seu núcleo e exterior,
intragável
sabor,
a
enxofre, a morte, a miséria,
e
o nojo inerente a quem escolhe provar,
os
seus pecados, desmazelo total,
ignorância
à flor da pele.
a
raiva cresce e o impulso vem,
afinal,
sou de quem?
serei
o eu, que escrevo, noites em claro,
ou
serei o eu, que cai em desamparo,
que
explode, que envenena,
que
pica, que ferra?
quem
sou eu e o que faço aqui,
momentos
que nunca revivi,
por
me ser doloroso.
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