campo imaculado,
facto refutado,
realidade desafiada,
mente organizada.
na verdade das minhas palavras,
encontrarás mentiras,
caminho sobre o solo enquanto o lavras,
não sou quem admiras.
se soubesse quem sou, não escreveria,
pois a escrita transcende indivíduos,
o espelho que me revelaria,
partido, sobram só resíduos.
a mentira tem perna curta,
é o que dizem,
a minha é longa, e tudo furta,
aguardo por palavras que me realizem.
embora escreva, não digo nada,
e, tal como uma fada,
apareço de noite,
depois da meia-noite.
nas notas que Beethoven criou,
encontro o que ninguém me explicou,
desespero, inexistência da visão,
para nada me serve o coração.
batimentos esporádicos,
pensamentos sádicos,
estes que tenho, quando acordo,
bebo a raiva que transbordo.
líquido que não mata a sede,
líquido que me prende a uma rede,
tento sair dela,
acabo por me entrelaçar, ainda mais, nela.
encontro refúgio nas drogas,
enquanto me catalogas,
como um viciado, alguém perdido,
alguém que eventualmente será esquecido.
quando morrer, ninguém se lembrará,
nenhuma lágrima se derramará,
em meu nome, em minha memória,
e, só aí, alcançarei a vitória.
não quero que se lembrem,
nem que me recordem,
prefiro que me ignorem.
na companhia que o silencio me faz,
lembro-me de como era ser um rapaz.
não foi o mundo que fez de mim um renegado,
foram as pessoas com as suas diferentes máscaras,
embora tenho várias faces, só uso uma máscara,
e, até hoje, sempre fui equivocado,
segundos em que me paras,
somente, realidade clara.
na tormenta do desentendimento,
aprecio mais um momento,
de solidão, de opressão,
de desilusão e de falta de razão.
as pessoas, mais frias que o gelo,
fazem-me ter dor de cotovelo,
eu sou quente, até demais,
talvez por ser filho dos meus pais.
quando o violino chora,
chora para mim,
sim!
chora, somente para mim, agora!
água ardente pela garganta abaixo,
sentimentos que rebaixo,
enquanto bóio, pelo mar de enxofre,
o planeta sofre.
eu, sofro com ele,
pois sou filho dele.
atira-me areia para a cara,
realidade clara,
e cruel. molho tinta no meu pincel,
enquanto me afogo em ondas de mel.
neste momento, subo, até ao céu,
saboroso pitéu,
leite para as fêmeas,
apaixonei-me por uma das gémeas.
no elevar do espírito,
encontrei o meu deus,
o que sempre achei ser mito,
mas, no final, disse-me adeus.
empurrou-me, e caí, de novo amaldiçoado,
diabo, porque me persegues?
sou constantemente apedrejado,
espero que me cegues.
não quero ver mais morte,
nunca me considerei forte,
nem nunca tive norte,
que me guiasse até a um forte.
insanidade, é esta a verdade,
de quem sonha, de quem se disponha,
à mercê dos outros, não é que me oponha,
mas tenham vergonha!
vergonha de serem o que são,
de amarem sem coração,
de beijarem sem satisfação,
que lideres é que vocês serão, nova geração?
os mesmo que somos?
tristes melodias compomos,
para a próxima colheita,
pessoa que sempre aceita.
o diabo dorme na cama que está ao meu lado,
e, só ele, me canta o fado,
deprimente mundo este onde o diabo é mais humano que
vós,
pessoas sem alma, gargantas sem voz.
tabagismo como desculpa,
faz-nos isentes da culpa,
de magoar, de destruir,
tudo o que é belo, e ainda nos dá vontade de rir.
morram, parasitas da sociedade!
morram, opressores da verdade!
revolta inerente a quem acreditou,
paixão aceite por quem pecou.
lacrimosa mulher de cabelos brancos,
porque partiu o teu filho primeiro,
conduzimos todos aos solavancos,
em vez de viajarmos num veleiro.
para fora de aqui, para longe de tudo,
com as minhas palavras, o mundo mudo,
pois quando estou acompanhado, sou mudo,
e nada mudo, só observo. levanto o meu escudo.
a vida é nada, e eu, sou muito menos,
somos criadores de venenos,
e agora, pagamos pela nossa estupidez,
como sempre pagamos pela nudez.
somos criaturas do pecado,
somos instrumento do diabo,
e isso deixa-me revoltado,
podíamos ser mais. nunca mais acabo.
e, quando acabo, quero mais,
como se me alimenta-se de sais minerais.
as florestas, já não existem,
as montanhas, há espera que as listem,
para serem exploradas, minadas,
filhas que foram dadas.
dados percentuais e honestos,
sempre modestos,
na sua sorte, no seu azar,
nada mais que números podem dar.
o desabo da nossa realidade é doloroso,
e, tal como a minha avó, coso,
o meu coração, as minhas feridas,
gatos com inúmeras
vidas.