domingo, 25 de outubro de 2020

campo imaculado,

facto refutado,

realidade desafiada,

mente organizada.

 

na verdade das minhas palavras,

encontrarás mentiras,

caminho sobre o solo enquanto o lavras,

não sou quem admiras.

 

se soubesse quem sou, não escreveria,

pois a escrita transcende indivíduos,

o espelho que me revelaria,

partido, sobram só resíduos.

 

a mentira tem perna curta,

é o que dizem,

a minha é longa, e tudo furta,

aguardo por palavras que me realizem.

 

embora escreva, não digo nada,

e, tal como uma fada,

apareço de noite,

depois da meia-noite.

 

nas notas que Beethoven criou,

encontro o que ninguém me explicou,

desespero, inexistência da visão,

para nada me serve o coração.

 

batimentos esporádicos,

pensamentos sádicos,

estes que tenho, quando acordo,

bebo a raiva que transbordo.

 

líquido que não mata a sede,

líquido que me prende a uma rede,

tento sair dela,

acabo por me entrelaçar, ainda mais, nela.

 

encontro refúgio nas drogas,

enquanto me catalogas,

como um viciado, alguém perdido,

alguém que eventualmente será esquecido.

 

quando morrer, ninguém se lembrará,

nenhuma lágrima se derramará,

em meu nome, em minha memória,

e, só aí, alcançarei a vitória.

 

não quero que se lembrem,

nem que me recordem,

prefiro que me ignorem.

 

na companhia que o silencio me faz,

lembro-me de como era ser um rapaz.

 

não foi o mundo que fez de mim um renegado,

foram as pessoas com as suas diferentes máscaras,

embora tenho várias faces, só uso uma máscara,

e, até hoje, sempre fui equivocado,

segundos em que me paras,

somente, realidade clara.

 

na tormenta do desentendimento,

aprecio mais um momento,

de solidão, de opressão,

de desilusão e de falta de razão.

 

as pessoas, mais frias que o gelo,

fazem-me ter dor de cotovelo,

eu sou quente, até demais,

talvez por ser filho dos meus pais.

 

quando o violino chora,

chora para mim,

sim!

chora, somente para mim, agora!

 

água ardente pela garganta abaixo,

sentimentos que rebaixo,

enquanto bóio, pelo mar de enxofre,

o planeta sofre.

 

eu, sofro com ele,

pois sou filho dele.

 

atira-me areia para a cara,

realidade clara,

e cruel. molho tinta no meu pincel,

enquanto me afogo em ondas de mel.

 

neste momento, subo, até ao céu,

saboroso pitéu,

leite para as fêmeas,

apaixonei-me por uma das gémeas.

 

no elevar do espírito,

encontrei o meu deus,

o que sempre achei ser mito,

mas, no final, disse-me adeus.

 

empurrou-me, e caí, de novo amaldiçoado,

diabo, porque me persegues?

sou constantemente apedrejado,

espero que me cegues.

 

não quero ver mais morte,

nunca me considerei forte,

nem nunca tive norte,

que me guiasse até a um forte.

 

insanidade, é esta a verdade,

de quem sonha, de quem se disponha,

à mercê dos outros, não é que me oponha,

mas tenham vergonha!

vergonha de serem o que são,

de amarem sem coração,

de beijarem sem satisfação,

que lideres é que vocês serão, nova geração?

 

os mesmo que somos?

tristes melodias compomos,

para a próxima colheita,

pessoa que sempre aceita.

 

o diabo dorme na cama que está ao meu lado,

e, só ele, me canta o fado,

deprimente mundo este onde o diabo é mais humano que vós,

pessoas sem alma, gargantas sem voz.

 

tabagismo como desculpa,

faz-nos isentes da culpa,

de magoar, de destruir,

tudo o que é belo, e ainda nos dá vontade de rir.

 

morram, parasitas da sociedade!

morram, opressores da verdade!

revolta inerente a quem acreditou,

paixão aceite por quem pecou.

 

lacrimosa mulher de cabelos brancos,

porque partiu o teu filho primeiro,

conduzimos todos aos solavancos,

em vez de viajarmos num veleiro.

 

para fora de aqui, para longe de tudo,

com as minhas palavras, o mundo mudo,

pois quando estou acompanhado, sou mudo,

e nada mudo, só observo. levanto o meu escudo.

 

a vida é nada, e eu, sou muito menos,

somos criadores de venenos,

e agora, pagamos pela nossa estupidez,

como sempre pagamos pela nudez.

 

somos criaturas do pecado,

somos instrumento do diabo,

e isso deixa-me revoltado,

podíamos ser mais. nunca mais acabo.

 

e, quando acabo, quero mais,

como se me alimenta-se de sais minerais.

 

as florestas, já não existem,

as montanhas, há espera que as listem,

para serem exploradas, minadas,

filhas que foram dadas.

 

dados percentuais e honestos,

sempre modestos,

na sua sorte, no seu azar,

nada mais que números podem dar.

 

o desabo da nossa realidade é doloroso,

e, tal como a minha avó, coso,

o meu coração, as minhas feridas,

gatos com inúmeras vidas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

morto, nos sentimentos.

catatónico, em como me expresso.

prefiro não me recordar de certos momentos,  determinados movimentos,

e este assunto, nem às paredes confesso,

porque sentir é sofrer, e sofrer é cair,

volto a cair sempre que consigo subir,

tenho arrepios quando penso em como era sorrir,

verdadeiramente, honestamente, alturas em que fui crente,

ocasiões onde amei perdidamente, onde o esforço foi insuficiente.

 

quando sou, sou na totalidade,

e quando me vou, ajo por conformidade,

à verdade, à realidade, ao meu destino,

ninguém salvou este menino,

e os chamados heróis e bondosos,

demonstraram ser pouco generosos,

as trocas, injustas, impuras,

as palavras, imaturas,

infantes mais idosos que velhos,

adultos que não passam de fedelhos.

 

ao ser o que fui, fui usado, constantemente,

e ao ser o homem que nunca mente,

perdi o presente,

perdi a esperança, perdi a capacidade de acreditar,

e nos momentos em que me faltou o ar,

só precisava de alguém para falar,

alguém que abraçasse com o corpo, que beijasse com a língua,

que não tivesse medo de transbordar água,

e que vivesse a vida,

a verdade nunca deve ser esquecida,

aprende-se a sofrer, tal como se aprende com o sofrer,

e a cada sofrer, há um erguer,

mas, em cada erguer, perco a vontade de viver,

a estrada parece não ter fim, e as luzes estão a dormir,

por isso, acabei por não sentir,

pois sentir até acontece a dormir,

é uma ferramenta que me é inútil,

enviesa-me o pensamento,  nunca me é útil,

e a empatia, serve de alimento para a depressão,

não carrego só o meu peso no coração,

os fardos são divididos, mas os meus não,

ninguém os leva comigo,

nem mesmo quando estava contigo,

amor perdido para o tempo,

em cada relação surge um contratempo,

 o verde torna-se vermelho,

no final, tudo vai no caralho,

e o caralho, fode tudo,

até quem é mudo,

e mantém a boca fechada,

pois a boca não é a única entrada.

 

as alturas em que assobio, pelas ruas tristes,

são as alturas em que mais me assistes,

pássaro tímido e curioso,

discurso assertivo e pouco mentiroso,

envolve-me na sua canção,

cenário que me abre a mão,

que me abre ao espiritual,

revejo uma vida animal,

onde sou o ator principal,

e aos poucos, vou me afastando,

relembro-me do grande Fernando,

e dos seus poemas imaculados,

por mim, serão sempre venerados,

pela sua astucia, pelo seu génio,

poeta do milénio,

amigo desconhecido,

coração conhecido,

 exposto, por palavras, por ondas lineares,

dava-te os meus textos para brincares,

para os fazeres ouro literário,

texto não binário.

 

mas pronto, sou quem sou,

alguém que nunca se libertou,

das correntes, das prisões que são as recordações,

e a ti, pediria vários perdões.

sábado, 17 de outubro de 2020

 o tempo corre, e nunca para,

o tempo leva, o tempo sara,

com o tempo, aprendi quem era,

e como o tempo, sigo em frente,

sem olhar para trás,

no passado, encontro desilusões,

reencontro sentimentos enterrados,

o presente, ilusório,

finge que é o que está a acontecer,

mas, na verdade, o presente, é o que foi,

no futuro, encontro oportunidade,

no futuro, encontro surpresas,

e só, no futuro, te encontro a ti,

futura herdeira do meu viver,

motivo do meu prazer,

sentido, no meu ser.

 

quando esqueço, esqueço de vez,

mas, por vezes, esquecer é complicado,

quando estou triste, peço ao tempo que corra mais rápido,

que as feridas sarem mais depressa,

e que as imagens, do passado, se percam.

 

quando me deito, penso nela,

e quando acordo, o cheiro dela,

suave e humano,

gentil e soberano,

cabelo pintado,

e corpo frágil.

é isto tudo, a mulher que amo,

quando digo que amo, digo-o sentido,

pois só quem me acorda a fome de viver,

é merecedor do meu carinho,

embora que rápido, apaixonei-me,

e quando me apaixono, caio por inteiro.

 

quando sorrio, penso em ti,

porque ninguém me preenche mais a rir que tu,

e quando te afastas, talvez por medo de ser presa,

levas contigo um pedaço de mim que me é querido,

mas quando me beijas, dás-me muito mais.

 

posso dizer, com certezas, que te quero,

e, quero-te muito,

sabe, que quando o gelo se derrete,

as lágrimas transbordam,

e quando o sol acorda, ainda penso em ti.

curta, esta relação que criei contigo,

mas verdadeira, na sua espontaneidade,

por isso, da próxima vez que te afastares,

lembra-te que estarei à tua espera,

pois tendo a não desistir de quem me preenche.

 

és perfeita, na tua incerteza,

e és genuína nos teus receios,

quando caíres, caí para a frente,

não me importo de me magoar se te amortecer a queda.

não mates o que é espontâneo,

pois ser espontâneo é falar a linguagem do universo.

faz o que queres fazer, e, se estiveres perdida, olha para o céu,

o mesmo céu que olhamos em conjunto.

visita o nosso jardim e senta-te no mesmo banco onde nos beijamos.

com carinho e amor, o teu Henrique

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

 

à deriva, vagueio por ai,

percorro linhas de ferro,

como alguns percorrem linhas brancas,

constante inconstância, alma em dissonância,

o mundo arde, em febre,

o mundo chora, o mundo adoece,

crianças criadas com trela ao pescoço,

herdeiras das frustrações dos cuidadores,

a nuvem transborda lágrimas,

a lua, esconde-se,

criaturas estranhas acordam de noite,

na noite somos peões num jogo de deuses,

e no girar de um pião, somos cordas manuseadas,

o coração sangra quando o amor morre,

o espírito encolhe,

só na noite almas são colhidas,

de noite, pessoas são esquecidas,

nos sonhos, abstinência da realidade,

a mente, mente, e eu, minto com ela,

não me conseguem atirar ao chão,

não aceito perdão,

ressequido e desonesto,

não aceito justificação,

quando o motivo não é honesto,

e não me conseguem partir,

não sou feito de vidro,

resistência de quem já esteve no outro lado,

resiliência de quem já sumiu, de quem já partiu,

e consigo ficar bem,

quando estou sozinho,

porque aprecio mais a minha doença,

que pessoas que usam máscara diante quem não se esconde,

cobardes, esses que fazem a sua presença desconhecida,

a sua identidade permanece escondida,

medo é natural, e sentir medo tem objetivo,

mas quando o medo poupa quedas,

e as portas se fecham,

um novo mundo é criado,

podemos dizer que sim, portas novas se abriram,

e sim, muitos sorrisos morreram,

perdidos para o tempo,

nunca concretizados,

experiências negligenciadas,

e a morte, é isso,

uma porta que fechou, para sempre.

quando algo morre, tudo muda,

as plantas murcham,

os pássaros não voam, e os peixes não nadam,

a morte é o fim de uma vida,

de um conjunto de vivências,

a morte leva até o sentimento,

por isso, temo a morte,

e agradeço as oportunidades que me foram dadas,

porque para mim, a vida é o bem mais precioso que temos,

a vida é o começo, é a inocência e a beleza.

a vida é curta, pelo menos para mim,

passamos metade da vida a dormir,

tempo jogado fora, para uma consciência tranquila,

de que fiz tudo ao meu alcance.

no final, nada pode ser explicado,

e a vida resume-se a uma coisa,

sentido.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

estou cansado,

mesmo assim, corro,

hoje fui ao nosso jardim,

estava vazio,

fiz-lhe companhia,

fiquei só, com ele,

senti que a tua presença era mais sentida que a minha,

sem ti, o jardim não riu,

o jardim não chorou,

o jardim não fez nada,

simplesmente existiu,

e assim permanecerá, até à tua chegada.

o coração, é frágil, e eu, nem tanto,

noites em que canto, no meu canto, que podia ser nosso, mas não é.

cansado, de subir, apenas para cair,

amargo, este sentimento permanente de desconforto,

sonhos em que estou morto,

não me trazem nada, mas contam-me,

o futuro, o que me espera,

alegria que me era, comum, normal,

agora, é só memória, desfalcada e adulterada,

mementos, sem momentos,

sem movimentos,

simplesmente, nevoeiro, de janeiro,

e as contas que fiz, onde seriamos três,

acabaram por resultar num grande zero,

zero que sou, ainda mais zero que quero ser,

cordas, fortes e rijas,

ao contrário de mim, suave e maleável,

sensação desprezável,

tempos, em que te via rir, despreocupada, com o que poderia ser,

tempos em que vivias, um beijo,

em que tinhas essência, em que eras tu mesma,

e não o fantasma do que foste,

e agora? persigo fantasmas, que nunca acho,

aqui, no escuro, nada acho,

é a ausência do ser,

é a inexistência do viver,

é aquela picada no rim,

é aquele aperto no coração,

quando não havia necessidade de pedir perdão,

e estou, bem, estou bem farto,

de acordar, de me levantar,

de olhar para um espelho, que nada me diz,

de olhar para estes olhos, que choram o que sou,

que choram quem fui, em tempos,

que era notório, ser. ser o que sou,

ser o henrique, que teve tudo,

agora, pinto com tinta corporal,

desenho com ardor animal,

desmembra o preconceito,

atira-o da janela,

discrimina nem a própria palavra, discriminação,

por isso, sé, alguém. alguém que queiras ser,

alguém que anseia o viver,

alguém que come sem esquecer,

o porquê de comer, o porquê de respirar,

o porquê de acordar.

gostava de acender o teu interior,

como fizeste ao meu,

conseguirei eu?

o mesmo eu que, te viu sair,

da minha vida, que jogou a mão,

e te perdeu? não sei, nem nunca hei de saber,

saber o que poderia, saber o que sentiria,

não gosto desta realidade,

nem da sua verdade,

inegável, palpável,

respira, para fora,

abre a gaiola, e voa para longe,

a sociedade está podre, no seu núcleo e exterior,

intragável sabor,

a enxofre, a morte, a miséria,

e o nojo inerente a quem escolhe provar,

os seus pecados, desmazelo total,

ignorância à flor da pele.

a raiva cresce e o impulso vem,

afinal, sou de quem?

serei o eu, que escrevo, noites em claro,

ou serei o eu, que cai em desamparo,

que explode, que envenena,

que pica, que ferra?

quem sou eu e o que faço aqui,

momentos que nunca revivi,

por me ser doloroso.