Sou um fracasso,
Não
consigo ter utilidade,
A
desutilidade que sinto como amante,
É
a mesma que sinto quando sou filho dos meus pais,
Quando
não o sou, sou somente mais um desses,
Que
derivam sem propósito,
Que
amam sem limite.
Sou
estranho,
Não
consigo encontrar razão para ser,
Encontro,
porventura, várias razões para não o ser,
O
que me prende ao mundo dos vivos,
permanece
um mistério para todos, menos para mim…
Procuro
o cheiro característico do cabelo de quem me beijou a alma,
De
quem continua dona do meu pensamento,
Embora
procure, só encontro o cheiro típico da morte,
O
enxofre é tudo aquilo que temo,
Temer
é natural, já o pavor que sinto, quando estou só, não.
Hoje
fui derrotado pelos meus medos,
Ranjo
os dentes como quem não quer ter dentes,
Roo
as unhas, as peles e o que se encontra por debaixo dela.
Não
sei quem sou ou o que sou,
Talvez
seja um morto vivo,
Talvez
seja um vivo já morto,
Quem
sabe de verdade,
Onde
se encontra a linha que separa,
O
que é e o que foi.
Não
nasci para ser governador,
Nem
para ser líder,
Nasci
para ser escritor,
Sei
que quando morrer, morrerei com uma caneta ao lado,
Pois
de todos os amores que tive,
A
caneta foi a única que não me falhou.
Sinceramente,
quem falhou fui eu,
Quando
não a peguei e anotei,
Sentimentos
e pensamentos quase geniais,
Oh,
pudesse eu lembrar-me do que poderia ter escrito,
Com
a mesma caneta que escrevo desde criança.
Uso
o meu sangue como tinta,
O
meu sangue preenche a caneta,
A
caneta não me rejeita,
Pelo
contrário, agradece-me.
Perdi-me
algures,
Antes
de ter dado conta, já dormia no chão da rua,
Livre,
mas sem nada,
Para
além de mim e desta caneta, que é só minha.
Passei
a escrever em paredes,
Em
pedras de calçada,
Até
mesmo no meu próprio corpo.
Sempre
que penso na pessoa que ainda me tem,
As
ganas de viver surgem,
Ao
pensar mais fundo, lembro-me de que essa pessoa já não existe,
E
as ganas de viver voltam a sumir,
Ela
foi tudo aquilo que sempre quis, mas que nunca soube que tive,
Talvez,
só talvez, os cigarros matem as nossas recordações,
Ou,
talvez, só talvez, estes cigarros me matem a mim primeiro.
Permaneço
a ser um fracassado,
Afundo-me
no nada que sou,
Desapareço.
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