terça-feira, 1 de julho de 2025

odeio-te quando te amo. odeio-te. não por acordar a meio da noite preocupado contigo nem mesmo por escolheres virar-me as costas... por ti, engulo sapos,  dou tiros nos pés, caminho pelas chamas e movo montanhas.



 amar alguém, ou algo, faz com que ponhamos de parte o que queremos. por vezes, procuro-me nos teus poemas. procuro-me no que fazes. embora procure, por mim, não me encontro.



roubaste-me a essência. entraste na minha vida como se fosses o primeiro dia, de primavera, e saíste dela como quando a geada nos apanha desprevenidos num dia de outono ameno. havia guardado o meu coração dentro de um cofre envolvido em espinhos. demoliste as paredes da minha mansão de forma natural e inconsciente.



odeio-te pelas noites que dormimos longe, mas juntos. foste, para mim, uma companheira. embora fria a tua partida tenha sido, sinto dentro de mim um calor que me sufoca. sinto raiva de ti por teres escolhido abandonar-me. fizeste de mim cão sem pelo à deriva pelas ruas nojentas de Portimão, faminto, indesejado, com uma comichão que me é impossível coçar. 



no fim, percebo que não te odeio. odeio-me pois não fui bom o suficiente. odeio-me por me permitir amar e por me deixar ser roubado.


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