domingo, 28 de janeiro de 2024

quando fecho as cortinas, do meu quarto, e a noite vem, lembro-me do sabor dos teus lábios e de como esses teus lábios se encaixaram nos meus. a praceta junto ao rio ganhou um significado novo, para mim. todos os dias passo por lá. todos os dias me recordo do momento em que senti o bater do teu coração na minha boca.

imagino o que teria acontecido se me tivesses convidado a entrar contigo no carro. penso e repenso em como seria ter a tua mão na minha coxa, enquanto me beijavas num descontrolo controlado. quero ser peça de puzzle. quero encaixar em ti e tornar-me num só contigo. 

a vontade de te querer ou o querer ter-te só por mais uns breves instantes não me deixam dormir nesta noite onde luto contra os meus desejos. desejo-te. desejo-te na integra e desejo-te vulnerável e descoberta nos lençóis da minha cama. não te prometo que me controlaria se a tua carne tocasse na minha ou se os teus dedos percorressem o meu peito, mas prometo-te que mesmo descontrolado seria delicado e sensível, pois tudo o que é belo e frágil merece o meu afeto. 

quero descobrir esse teu lado. quero explorar as curvas do teu corpo, quero morder-te o pescoço arrancando da tua pele todas as incertezas e os medos associados ao julgamento e às mascaras que usamos, mas que não são necessárias hoje, na cama que te pertence nesta e em todas as outras noites que queiras navegar pelas nuvens de seda e algodão. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

existe bondade no toque suave do vento:


abro a porta,


passo para o outro lado,


fecho a porta.


paro de olhar para o chão,


levanto a cabeça,


abro os braços,


abraço-te.


aceito a dor,


aprecio a vida,


choro um pouco.

a fome de querer,

a vontade de acordar.

fizeste fogo com paus húmidos,

trouxeste calor e cor para a minha vida.

embora as tuas costas se estejam a afastar,

não te vou tentar parar,

nem te vou pedir para olhares para trás,

sabe que a vida é bela novamente,

e que a esperança foi restaurada,

parcialmente pelo que me deste.

se amar é dar sem receber,

sei que fui amado.


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

como o batimento cardíaco monótono e enfraquecido, também aguardava o término da viagem de comboio. sempre acreditei que, quando encarasse a morte, o fizesse de braços abertos, de forma voluntária e sem arrependimentos, no entanto, quando senti que ia morrer, veio-me à cabeça a minha mãe. quase como num filme, imagens do seu rosto atravessaram o meu pensamento e soube exatamente o que significaria o término antecipado e amargo da minha vida. 

não me faltam motivos para baixar os braços. os socos já não doem e o vento já não corta. a sujidade mundana e rudimentar faz, agora, parte da minha essência. durante a tempestade, já não tempo lutar contra a corrente e aceito a ausência de ar nos meus pulmões. Gostava de afundar no mar, mas já estou tão submerso no lodo que por muito mais que tente afundar é me impossível.

vejo uma porta. abro-a. atravesso fogo, queimo a sola dos meus pés cansados. sei onde estou. no meio de tantos pecados, destaca-se aquele que carrego de forma exuberante. todos pecam. essa é a verdade. uns pecam mais que outros. o meu maior fracasso foi ter deixado para trás a pessoa mais humana que conheci.

mãe. querida e amada mãe. não te pedirei perdão, mas sabe que me arrependo de te ter causado sofrimento imaginável. deste-me vida. mantiveste-me vivo e ainda me deste razões para cá ficar. por vezes, questiono-me se te mereço e questiono o motivo do teu amor incondicional. quando me olhas com esses olhos belos, o que vês? gostava de ser mais como tu. quando me vejo ao espelho vejo-o a ele. sinto que aos poucos o meu maior pesadelo se está a concretizar. não sei o que fazer e isso assusta-me



domingo, 21 de janeiro de 2024

as folhas morrem.

as folhas caem.

serei folha?

ou serei o verme que as consome, até na morte?

se com o vento pudesse voar,

voaria para o vazio,

mergulharia no nada que é o meu pensamento.



a morte de algo que nunca existiu,

ou a vida de algo não concebido,

causa-me nostalgia azeda.



manhãs, tardes ou noites.

sol, chuva ou nada.

tudo parece igual.

o sol arde,

a chuva corrói,

abraço o nada.



já nem ouço as notas musicais,

ouço apenas ruído, estático.



preso numa prisão sofisticada,

mas não tão sofisticada assim,

pois esta prisão não me prende,

esta prisão não me priva,

contudo, esta prisão tira-me a vida,

e a vontade em vive-la.



não sou bom,

não sou mau.

não sou um bom mau.

nem mesmo um mau bom.

sou eu. apenas isso.

uma criança adulta,

que cresceu exclusivamente para dentro.