segunda-feira, 29 de junho de 2020

Cidade vazia:
rio desaba no vasto oceano, lua que nos circunda todo o ano, balas que me atingem e não causam dano, ouço algo belo. talvez sejam notas de piano.
casa solitária no meio de um lago, buscar sentido em todo o lado é vago, a sabedoria era maior em momentos passados, tempos em que bailava ao som de outros fados.
esta estação, que é somente tua, expôs a verdade nua e crua, sou uma marionete que controlas, sou o pedaço de terra debaixo das tuas solas.
momentos que duram para a eternidade, sentimentos com continuidade, nunca te privei de liberdade, sempre falei com honestidade.
esta cidade que foi, em tempos, nossa, perdeu o brilho com a tua ausência, amor substituído por ciência, vejo o meu reflexo numa possa.
a verdade do que nunca foi dito, nunca me será dada, digo e cito, "não se passa nada".
vista tapada com um pano, magoa e causa dano, este pano que tento tirar, podias ter sido tu retirar.

sábado, 27 de junho de 2020

Antes de te ter abraçado não sabia o quão brilhante era este mundo. Foi um amor que chamou o meu nome. Quando olhava para ti, o meu coração vibrava. Nunca esquecerei todos os momentos comuns que vivemos, para toda a eternidade. Tal com o sol, brilhaste sobre mim. Antes de ter largar não soube o quão solitário era este mundo. Flores lindas crescem e murcham aqui. A tua estação nunca irá voltar. Vai existir o dia em que nos vamos reencontrar. Esse será o dia mais feliz da minha vida. E quando isso acontecer, voltarei para ti como a primeira geada. Vou ao teu encontro
sombras reiunem-se onde partiste,
cordão nebuloso que une este sitio a ti,
sou imprudente por me ter deixado afundar tão fundo,
e agora bati no fundo, no fundo desta estação que só a ti te pertence.
tenho uma mão cheia de memórias e a outra cheia de arrependimentos,
coisas que queria dizer e não disse, momentos em que devia ter ficado calado, mas não fiquei.

quando olho para o céu, de noite, conto as estrelas. consolo-me no facto de que consigo ver as estrelas embora elas estejam distantes de mim. estás estão distante. é assim tão errado querer acompanhar-te? é doloroso. nunca senti nada como isto. sou cego para o que me é primitivo e de ouvidos abertos para o bater do teu coração.

sinto-me como um observador passivo que nada pode fazer para além de chorar. chorar de alegria, chorar como um pinto abandonado. sei que nada é eterno e, sei também, que somos só um momento, mas o momento em que estiveste na minha vida foi o melhor momento que vivi até hoje. ninguém, nunca, me fez sentir como tu me fizeste. és a água do rio cujo destino tento apanhar, mas tal como a água do rio, escapas pelos meus dedos.

o que me aguarda o futuro? quanto tempo mais irei eu sentir-me desta forma? para sempre? ou só por mais um breve instante?

quarta-feira, 24 de junho de 2020

O que é o amor?

É o fim, é o começo,
É uma despedida, é um até logo,
É o sol de Junho, é a chuva de Janeiro,
É um circulo, é um cilindro,
É um beijo, é um virar de costas,
É o amor, é o desespero.

É o virar de costas, é o fim da estrada,
É a solidão que sinto à noite, é a luz de presença,
É um espelho de aço, é a água constrangida,
É a alma aquecida, é o coração gelado,
É o amanhecer, é o crepúsculo,
É a vida, é o abraço da morte.

É o pensamento recorrente, é o sentimento persistente,
É o corroer do solo, é a flor a crescer,
É a mãe sem filho, é o crescer da emoção,
É a lagrima no rosto, é o sorriso na orelha,
É a borboleta no estomago, é a cantiga desconsolada,
É o nascer, é o crescer, é o envelhecer.

  


sexta-feira, 19 de junho de 2020

pego na caneta mais uma vez,
saudades dos olhos com que me vês,
"três, a conta que Deus fez".

história repetida,
carta perdida,
mulher introvertida.

pensei ter esquecido,
pensamento desmentido,
pinheiro ressequido.

nas silabas das notas que não são ouvidas,
nos fonemas que sempre foram teus,
nos sorrisos que foram meus,
viajo no som das tuas batidas.

esta mulher introvertida,
que é sempre determinada,
faz-me dançar a sua balada.

abraço agora a miséria,
reconheço esta matéria,
invade o meu corpo como uma bactéria.

cabelos castanhos,
rir que me embala,
toque que fala,
olhares de diferentes tamanhos.

sinto a tua falta, mulher introvertida,
da tua conversa fluída,
de como ajudavas a sarar a minha ferida.

nunca me esquecerei de ti, mulher introvertida,
e da nossa página vivida,
no final a nossa capa foi multicolorida.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

estás zangado, e deverias estar,
sentes a raiva subir a tua mente,
as injustiças do mundo fazem-te pensar,
pessoa que te mente.

a merda é igual, o cheiro é diferente,
fez de um crente descrente,
lobo disfarçado de ovelha,
casa sem telha.

monstros que vivem do desespero,
gostava que isto fosse só um exagero,
mas não é, é a verdade,
mundo sem beldade.