ser misterioso,
muito me tens atormentado,
uns chamam-te culpa, outros remorso,
pensamento venenoso,
sonho roubado,
lar que distorço.
eu chamo-te cobra, chamo-te inútil,
persegues-me no sono,
mecanismo útil,
se fosses um dos sete pecados eras o nono,
sei que sou o oitavo,
como, por inteiro, um cravo..
chuva ácida ensaguentada,
trás-me sensações de ódio,
alma perfurada,
à espera do próximo episódio,
episódio onde hei de explodir,
tudo vou consumir.
engulo em seco a saliva do que não saiu,
envolto em memórias reprimidas,
traumas enterrados,
entidade que me traiu,
duas pessoas oprimidas,
pressionado por dois lados.
o dedo pressiona o gatilho,
pai que suprimiu o filho,
foi-se embora o brilho,
perdi-me do trilho.
não existe mais nada que gritos,
vozes que me não me largam,
"liberta-nos, deixa-nos sair",
realidade limitada por mitos,
levam-me à loucura, dentes que rasgam,
devido à insanidade, começo a rir.
de todos os gritos, o que mais ouço, é o dele
"podes acabar com isto sempre que quiseres", disse-me ele,
amigo que sempre tive,
pessoa que nunca vive,
a não ser dentro de mim,
"queres que faça sumir tudo"?, respondi que sim.
instala-se o vazio,
fui para dentro, para dentro de mim,
o silêncio só vem assim,
para dentro, riu,
cama nublada de nada,
reencontro a minha fada.
melodia da escuridão,
só eu a ouço,
sempre dividi o meu coração,
contigo, que és eu,
chego ao fim do poço,
rapaz que, finalmente, se ergueu.
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