só, sem ti, entrego-me ao desespero. choro agora as lágrimas que choraste quando tudo acabou. morte, estrada sem retorno. continuo perdido, à procura da mão que quero agarrar, a tua, só tua. caminho, de cabeça em baixo, puzzle no qual não me encaixo, reflexo no qual não revejo o que sou, nem o que fui. quando olho para o espelho, lembro-me do teu conselho, aquele que agora aconselho a mim mesmo. as portas estão fechadas, as ruas, interditas. gotas paradas no tempo, livro que ditas, palavras que se repetem, ciclos que se perpetuam. triste, a solidão e todos aqueles que não podem pedir perdão. triste, a paixão e os momentos roubados ao coração.
quando ando por ai, nas ruas de portimão, imagino a tua presença, a cada língua semelhante à tua, a cada lar de cabelos cujos oceanos desabam sem pressa, lembro-me do teu odor. cozinha as minhas tentações e sentimentos oprimidos, faz do meu ser essência, faz de mim um banquete para a galáxia. mastiga, de boca aberta, sem medo do preconceito e aproveita uma refeição saborosa. rói até ao osso, rasga músculos e nervos em busca do fruto proibido. cativa a minha alma e consome-me por inteiro.
a minha personalidade é a trituração de experiencias falhadas, de memórias manchadas, de sonhos pintados de preto. linha branca num quadro negro perdida para o tempo. perdi-te no tempo para o tempo. perdi-te. só, privado do teu cheiro, da tua carne. jogo as mãos ao cabelo e puxo-o com o intuito de apagar do meu cérebro tudo o que representaste e aquilo que ainda representas, para mim. é a desolação interior, é a mágoa desconsolada e renegada de tudo o que lhe era bom. é o sol, que me seca, que me apaga. que me castiga. que me priva da vida.
subo para descer, corro por montanhas russas como se estas trilhas fossem as linhas do livro da minha vida, onde escrevo todo o percurso que vivi e tudo o que estou a viver. percorro as folhas do meu diário e fico confuso. metade das palavras, e as letras que as compõem, não foram escritas por mim. pensamentos, ideias, obsessões traçadas e limitas pela linha de mar negro que circunda o que sou, o que penso ser. tudo o que tive, o mar levou, a maré retirou-me o que era mais precioso. tu. para todos os que se preocupam, apresento-vos mais uma vez, o meu interior. sem receio. com prazer. o vosso, henrique
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