domingo, 2 de fevereiro de 2020

Sociedade consumidora, sinto repulsa por pertencer a ti. Tu, pastor, que encaminhas as ovelhas com falinhas mansas para o covil do lobo, foi por tua culpa que deixei de acreditar. Tu, ladrão, que roubas não só o dinheiro de quem precisa como as fantasias de quem se atrevia a  imaginar, és a razão pela qual não consigo sonhar. Tu, assassino asqueroso, que buscas inundar as cidades com ondas de sangue, foste tu que mataste a minha inocência. Tu, pessoa arrogante, que nem sentes necessidade de pedir perdão quando cospes no prato onde comeste, por muitas bocas que beijes e muitas botas que lambas, serás sempre o pedaço de merda na sola do sapato de quem amas. Tu que acreditas que alguém te pertence, espero que vás ao encontro do vazio, tanto nos teus últimos momentos como nas memorias que os vivos têm de ti. Sempre fui um individuo que acreditou que o lado bom reinava sobre o lado mau mas hoje não consigo pensar assim. Toda a esperança que depositara no ser humano desvaneceu e tornou-se tão insignificante como lágrimas na chuva. Quando abro os olhos vejo pessoas no chão em busca de uma mão que os ajude a subir no entanto, para minha surpresa, essas mesmas pessoas são usadas como degraus de uma escada gigante cujo fim é a queda livre eterna e a solidão avassaladora. Compreendo que me possam dizer que nem todos são assim mas sei e garanto que cada um de nós, todos os dias, passa por pessoas que pode ajudar e não ajudam. Não por incapacidade ou falta de atenção mas pelo pensamento egocêntrico que somos ensinados a ter. Todos os dias vamos dormir, uns mais descansados que outros, uns de consciência tranquila, sabendo que ao nosso lado estão pessoas a morrer tanto por dentro como por fora. Fala-se muito que se assistirmos constantemente a certo tipo de conteúdo o nosso organismo e a nossa psique vão fazendo ajustes e criam anticorpos, pois o equilíbrio interno é necessário para um estilo de vida "saudável". Deixem que vós diga o seguinte, o que distingue o ser humano de qualquer outro animal é a sua capacidade racional e cognitiva. Talvez seja isto que nos faça tomar todo este conjunto de decisões inumanas. Pensamos de mais e sentimos demasiado pouco. Porque só assim conseguimos viver livres de remorsos. Quanto mais de nós teremos que dar até nos apercebermos do destino da nossa caminhada? Quanto mais de nós temos que perder até encontrarmos o que devemos de ser verdadeiramente. Porque é que temos dificuldade em dizer o que sentimos? Porque é que não conseguimos ser honestos uns com os outros? O que dizem que nos prende não são correntes de todo. São gaiolas com portas fechadas mas que não estão trancadas. Eu aceito o risco de morrer pois recuso-me a sobreviver somente. Quero viver verdadeiramente. Não, não evito sofrer pois o sofrimento é o percurso pelo qual encontramos a felicidade. Por muito podres que estejamos, por muito apáticos que tentemos ser, somos humanos e a humanidade não precisa de robôs nem de gado precisa de homens.

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