sábado, 16 de setembro de 2023

fascinante seria o término,

o desvendar de um grande mistério.

se nas ruas, molhadas, encontrares conforto,

não temas.

o cair das lágrimas não me entristece.

não.

nem mesmo a ausência de propósito ou vontade.

entristece-me sim a morte do que não deveria ter fim,

ou a vida de algo que nunca deveria de ter existido.

o prazer de coisas corriqueiras cessou,

a dor tornou-se constante e permanente.

dia após dias, as perguntas vão acumulando,

o descontentamento aumenta,

os meus olhos secam.

acredito que todo o mundo tenha uma função,

talvez a minha seja não ter função.

talvez, não ter função seja útil para os demais,

pois tudo o que toco corrói,

tudo o que piso quebra,

e tudo o que amo parte.

a vida nem sempre compensa,

especialmente para aquelas que não vêem mais sentido na dor,

no sofrimento e na angústia inevitável que é respirar.

olho em meu redor, vejo pessoas,

vejo monstros.

no meio do lixo podemos encontrar coisas preciosas,

e dentro do mais belo baú podemos encontrar nada.

não vou mentir, a vida é uma surpresa,

a vida dá mais voltas que a terra já deu ao sol.

o pouco conforto que encontro deve-se à minha cadela,

ao abanar da sua preciosa cauda,

e da forma como ela olha para mim,

quase como se me entendesse. 

mesmo não percebendo o que lhe digo,

ela esforça-se para me agradar,

acredito que nunca encontrarei ninguém neste mundo assim.

leal, amiga e tão cheia de afeto.

sei que nada é eterno,

nem eu, nem ela, nem ninguém.

tudo e todos têm prazo de validade.

sempre que acordo, acordo desiludido,

desiludido por ter acordado,

apenas para sofrer mais um dia,

mais um de muitos dias em que só conheço sofrimento.

nem sempre encontramos a verdade no real ou, até mesmo, no verdadeiro.

só encontramos a verdade das coisas quando fechamos os olhos,

e deixamos de ouvir o que nos rodeia.

hoje em dia, sempre que escutou alguém, penso:

"quando é que vou encontrar alguém que entenda?".

provavelmente nunca encontrarei tal pessoa e,

muito provavelmente, esse pessoa nunca me irá encontrar.

estou só. única e exclusivamente só.

sozinho num mundo cheio,

sozinho numa galáxia preenchida do vazio que me mata,

todos os dias, de forma dolorosa e silenciosa.

odeio-me, desprezo-me e espero que a paz não tarde a surgir.