sábado, 28 de março de 2020

"
tento dormir,
relembro-me da tua cara,
tento reprimir,
imagem ainda mais clara.

pensamento sufocante,
cenário reconfortante,
lágrimas de crocodilo
as minhas memórias compilo,

um passo para a frente e dois para trás,
contas que ninguém faz,
intenções que nunca verás.

custa perceber o que não me demonstras,
cara seca e escondida,
a mesma expressão redemonstras,
rapariga perdida,

emoção condensada,
a lua foi louvada,
elevação negativa,
passou de morta a viva.

já me esqueci de como é rir,
de como é sentir,
numa noite sem sono acabei por refletir.
"

quinta-feira, 26 de março de 2020

Insônia recorrente:

"chuva intensa e pesada,
limpa a minha alma,
raiva perdoada,
trás me a sensação de calma.

vento que me rasgas a pele,
entra no meu organismo,
purifica a minha essência,
preciso de alguém que me zele,
o chão treme, vem ai sismo,
o solo parte-se ao meio, instala-se a demência.

deus que me punes,
agradeço-te as segundas vias,
não entendo o que há de especial em mim,
vidros estilhaçados unes,
sonhos em que tu rias,
de um pensamento teu vim.

as ondas acordam-me de madrugada,
não existe uma decisão errada,
sou um quadro pintado pelo mais brilhante pintor,
diferente de qualquer outra cor, sou incolor,
sou tudo, mas não sou nada,
sou uma pedra na estrada."

sábado, 21 de março de 2020

Paredes
"sentimos ódio pelas paredes, mas também as valorizamos,
dão nos conforto, isolam-nos permanentemente,
paredes brancas e espessas, paredes seguras e tiranas,
paredes imperfeitas e assimétricas, objetivos que não concretizamos,
quando ficamos em casa sucessivamente, o stress vem de repente,
sem dar por nada, a casa não cheira a casa, mentes tornam-se insanas.

paredes grandes para a sua dimensão,
paredes que ouvem sem ouvir,
paredes que falam sem falar,
paredes que nos cortam o coração,
paredes que nem pensam em refletir,
paredes imortais que não parecem desabar,

casas passam a prisões sofisticadas,
as ruas, de noite, estão vazias,
o povo aguenta coletivamente, estamos todos presos entre paredes,
paredes velhas e mal tratadas,
paredes apáticas e frias,
paredes que nos oprimem como peixes envoltos em redes.

o tempo passa e o relógio anda devagar,
temo-nos uns aos outros para apoiar,
o medo, como tudo, à de passar,
ainda não é tempo de parar."